sábado, 28 de julho de 2012

Laptop, Gamboa e Cemitério dos Inglezes

Alguém poderá estranhar a insólita inclusão da palavra "laptop" entre Gamboa e Cemitério dos Inglezes na titulação dessa postagem. Explico:ontem, sexta-feira, 27/07/12 - numa linda manhã de sol, resolvi levar o meu laptop, malsinado pela "síndrome do defeito frequente"(SDF)- ao bairro da Saúde, centro do Rio, onde foi instalado recentemente, novos setores da SEEDUCRJ, inclusive, o setor de Ativos- responsável pela concessão e reparos desses computadores. Para minha frustação, fui informado que qualquer tipo de reparo estava suspenso por falta de peças,e que trocas por um novo não estavam autorizadas.O que fazer? Nada! Senão voltar com meu laptop enguiçado e com a sensação de estar sendo vítima de preconceito digital, ou melhor "abandono digital".Mas nem tudo foi decepção nessa linda manhã ensolarada desse Rio que eu tanto amo. Ao sair da SEEDUCRJ, dei conta da ambiência em volta, e percebi que estava numa área histórica da cidade, hoje esquecida do carioca- mas com uma história repleta de nostalgia e glamour.Prédios e casas antigas, ruas estreitas, tudo lembrando o Rio do século XIX, e porque não dizer - o Rio imperial. Decidi percorrer o bairro a pé, afinal estava perto da Central, outro ponto do centro onde teria mais opções de transporte (ônibus, Metro ou trem) para voltar para casa.Era o início de uma caminhada relativamente extensa. Você algum dia já caminhou do Santo Cristo à Central? Se você estiver em algum lugar histórico do Rio, vale a pena. É como transitar pelas trilhas da história, ouvir o eco das antigas catedrais, sentir o cheiro de gentes ou tipos ficcionalizados na literatura que insere o Rio em narrativas pautadas por um nostalgismo oitocentista. Do Santo Cristo cheguei à Gamboa, inicialmente uma região - que segundo os historiadores entre o final do século XIX e parte do século XX foi um arrebalde "aprazível e pitoresco", frequentado pela aristocracia carioca. No local havia chácaras e palacetes que serviram de residência à elite da época. Próximo ao mar, edificada sob uma colina - lá morou por exemplo, o legendário Visconde de Mauá. Foi também o local preferido para morar dos grandes empresários ingleses estabelecidos na então capital do Império do Brasil, isso justifica a construção de um cemitério. Saliente-se, que o reconhecimento da Gamboa como bairro do Rio, é algo que podemos reputar como recente. Aconteceu em 1981, na gestão do prefeito Marcos Tamoio. Tem portanto como bairro apenas 31 anos. Tanto a Gamboa, como o Cemitério dos Inglezes, respeitando-se a grafia na época para a palavra "inglezes"- é muito referenciada na literatura brasileira, especialmente na produção romanesca e contística de Machado de Assis. Assim passeando... senti-me como Rubião, mencionado em Quincas Borba, romance machadiano. "Mas Rubião não distinguia nada;via tudo confusamente. Foi ainda a pé durante longo tempo, passou o Saco do Alferes, passou a Gamboa, parou diante do Cemitério dos Inglezes, com seus velhos sepulcros trepados pelo morro, e afinal chegou à Saúde. Viu ruas esguias, outras em ladeira, casas apinhadas ao longe e no alto dos morros, becos, muita casa antiga, algumas do tempo dos reis, comidas, gretadas, estripadas, o cais encardido e a vida lá dentro. E tudo isso lhe dava uma sensação de nostalgia". BRASIL COLONIAL: Cemitérios, Cemitério dos Inglezes Durante o período colonial não havia cemitérios no Brasil.As pessoas falecidas geralmente eram sepultadas sob o piso ou nas paredes das igrejas e dos conventos. A partir de 1828, por questões de saúde pública- surgiram as primeiras leis que permitiam a criação de cemitérios, efetivamente usados somente em 1850. A implantação da República contribuiu para a secularização do cemitérios, antes administrados com rigor pela Igreja Católica, que não permitia o sepultamento de acatólicos em seus cemitérios. Em 1863,um decreto determinou que o registro de óbitos de não-católicos seria feito por um escrivão, em livro apropriado, e que em todos os cemitérios públicos deveria ser reservado um "lugar separado" para sepultamento desses. Em 1879, Saldanha Marinho apresentou um projeto de lei transferindo a administração dos cemitérios públicos para a competência das Câmaras Municipais,abalando de certo modo a interferência da Igreja Católica. O Cemitério dos Inglezes, construído em 1809 no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro é uma das mais antigas necrópoles do Brasil.Outro no Brasil, com nome similar, foi construído em Recife-Pe, em 1714. Há ainda outro Cemitério dos Inglezes, construído em Portugal (Elvas) em 1228. A permissão para construção do Cemitério dos Inglezes no Rio,foi decisiva para que os protestantes pudessem sepultar seus mortos , já que antes tinham que fazer sepultamentos no mar, pertos de praias ou em propriedades particulares. É isso aí, pessoal! Havendo oportunidade vale a pena visitar a Gamboa, o bairro hoje passa por um processo de revitalização, assim como outros bairros do centro do Rio.

2 comentários:

Cesar disse...

A Gamboa é um dos bairros do centro do Rio, incluso no projeto de revitalização da prefeitura.

Cesar disse...

Reescrevendo para corrigir a ambiguidade do comentário anterior.
A Gamboa é um dos bairros incluído
no projeto de revitalização do centro do Rio de Janeiro.