domingo, 19 de julho de 2015

Antes de Colombo, outros chegaram à Ámerica?

 
Quando pequeno, e naturalmente, não apenas eu-, ouvi do professor de História na escola, que Cristovão Colombo descobriu a América em 1492. Tal informação cristalizou-se. Toda criança no continente americano já ouviu isso. Hoje já não é mais assim.
 
Ao que ainda chamamos hipóteses, acrescente-se um registro inserido na literatura chinesa que problematiza ainda mais a questão. Antes lembremos que a China não costuma ser associada com frequência à exploração do Novo Mundo.
 
Shan-hai-Ching - O clássico das Montanhas Orientais é um livro chinês que reproduz um estudo sobre diversas montanhas. Está aceite que os altos picos figuram há muito tempo nas tradições orientais da magia e funcionam como 'repositorium' de energia da terra. Seja como for, o instigante é que as montanhas descritas no livro estariam situadas 'além do mar oriental'. Teriam os chineses estado na América antes de Colombo? Parece que isso tem mexido com os historiadores.
 
Shan-hai-Ching, venerável e polêmico livro, embora seja uma produção secular, datá-lo com exatidão é algo difícil. Durante muitos séculos, sua autoria tem sido atribuída ao imperador Yu, figura semimitológica que teria ascendido ao trono chinês em 2208.
 
Desde então o livro teve inúmeras edições. E isso nem sempre foi bom. Os (i)responsáveis por tal tarefa, foram descuidados. O exemplar teve seu conteúdo reduzido drasticamente e, por muitos anos o livro foi considerado meramente como um compêndio de folclore e crendices. Hoje, o livro desfruta de prestigiosa acolhida no âmbito da historiografia literária chinesa.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Debret - cronista do Brasil

Nestes  tempos, quando o Rio de Janeiro comemora 450 anos de fundação, um nome indubitavelmente merece ser lembrado e reverenciado por seu trabalho artístico. Esse nome é francês, mais parece tão nosso: Jean Baptist Debret (1768-1848). Chegou este francês ao Brasil, em particular à Guanabara, em 26 de março de 1816, e permaneceu nos  trópicos até 1831, quinze anos portanto; tempo que possibilitou ao artista montar seu painel de imagens do Rio, com destaque para nossas paisagens, usos, costumes, história e tradições, além de imagens de nossa negritude e escravidão - desdouro imputado ao Brasil por longos anos, e que ainda hoje, permanece sob o disfarce de outras formas de escravidão, maximé  pela ideologia e postura política equivocadamente rotulada de 'democracia'.
À parte destas ilações, voltemos a Debret. Seu acervo iconográfico, felizmente preservado e divulgado  nos centros culturais europeus num primeiro momento, despertou copioso interesse. Outros artistas vieram, e a contribuição desses igualmente valiosa ajudou a pontilhar a história do Brasil, em especial, de nossa cidade o Rio de Janeiro.
Sua produção artístico-literária, 'Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil', 1º volume, foi inicialmente publicado em Paris (1834). No ano seguinte, publicou-se a segunda parte da obra, e em 1839 o terceiro e último tomo. E nada melhor que o próprio autor falar de sua obra, leiamos, por exemplo sua Introdução, constante da terceira parte a que me referi acima.
"Depois de ter escrito, em meu primeiro volume, o estado selvagem do povo brasileiro, assunto do qual o invariável caráter primitivo já foi tratado com irrepreensível exatidão, por sábios viajantes europeus, reuni, na segunda parte da mesma obra, os detalhes mais raros e quase ignorados da história da indústria desse povo civilizado, submetido ao jugo português, indústria que, em seu começo, limitada a satisfazer às primeiras necessidades da vida, não diferia do estado selvagem senão pelas  fórmulas impostas na troca comercial dos produtos indígenas contra instrumentos agrícolas e alguns panos grosseiramente fabricados pela Inglaterra e importados por Portugal, mas que, mais tarde, devia oferecer  um possante interesse no seu desenvolvimento, apressado pela ativa influência dos estrangeiros. [...] Enfim, a terceira parte de que me ocupo, a história política e religiosa, importante por sua especialidade, submetida ela própria ao reflexo das combinações diplomáticas da Europa, constantemente agitada desde 1789, prepara um quadro interessante, rico de episódios recolhidos nos locais e cujo encadeamento servirá para  restabelecer para sempre os traços já está apagados  dos primeiros passos para a civilização deste povo recentemente regenerado". 
Objetivando dar uma feição didática à Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicou-se "Debret' - Todas as ilustrações devidamente explicadas sobre a obra, apresentação e texto por Herculano Gomes Mathias, volume em formato de bolso - editora Tecnoprint (Coleção Prestígio nº 673), exemplar que disponho, editada em 1947, e que sugiro como leitura complementar.
Saudamos e aplaudimos Debret, intérprete pioneiro da história brasileira, em especial de nossa amada cidade. O Rio é Debret, Debret é o Rio.